Ela aparece sem ser convidada. E vai ficando. De forma
avassaladora, toma conta dos pensamentos, das ideias, das vontades e,
daqui a pouco, já nos domina por inteiro. Estou falando da paixão. A
paixão nos enche de graça, anima nossa alma, traz cores vivas às nossas vidas.
A gente tem vontade de viver aquilo pra sempre. Não conseguimos tirar nossos
olhos dos olhos do outro. A gente vive para morrer nos braços do outro. Fica
ansioso com a chegada e chora com a partida. Sente um vazio quando não está
perto, sente-se aliviado quando recebe uma ligação (ou mensagem de whatsapp).
Certa vez conheci um casal de adolescentes completamente
apaixonados. Era o ano de 1997 e eles formavam o casal mais lindo da escola. A
beleza estava neles, mas ainda mais na troca de olhares, no tocar das mãos, no
choque que sentiam quando seus lábios se tocavam. Viveram o namorico por seis
meses, até o dia em que uma intriga os separou. Um amigo dele contou a ela que
fora traída na festinha de conclusão de ano da turma da escola. Ele bem que
tentou persuadi-la do término, mas ela, orgulhosa demais, não conseguia
esquecer o fato e preferiu seguir sem ele e com o coração cheio de paixão.
Em outro momento, conheci uma mulher que já havia se
machucado demais com um determinado amor de sua vida. Procurando ficar longe de
tudo que remetesse àquele amor, aceitou emprego em outra cidade. No primeiro
dia de trabalho, em uma reunião, conheceu um rapaz. Eles se olharam e passaram
uns cinco segundos com o olhar em cima do outro. Não, não era já a paixão, mas
uma atração inconfundível.
Começaram a trabalhar juntos e tiveram a oportunidade de se
conhecerem melhor. Era só isso que a paixão estava esperando para se tornar
dona da situação. O rapaz não era o homem mais lindo do mundo, na verdade ele
nem era tão bonito assim. Mas adivinhava os pensamentos dela e fazia de tudo
para vê-la feliz. Acordava e lhe mandava mensagens: “Bom dia! Vamos tomar café
juntos?! Te pego em 20 minutos”. Ela nem hesitava. Já dormia esperando por
isso.
A cidade era pequena e as pessoas começavam a notar a amizade
crescendo e tomando outras proporções. Eles dois também perceberam que já não
era mais só amizade, estavam apaixonados. Um dia começaram a conversar sobre
isso. Mas ele tinha uma história mal resolvida, um relacionamento anterior
terminado de uma forma que ela não entendia e com um filhinho lindo e carinhoso
no meio. Ela teve medo e não quis dar passos mais longos. Nem beijo eles
trocaram, embora não conseguissem apartar as vidas um do outro.
Não se relacionavam intimamente, mas todo mundo apostava que
sim, às vezes até eles. Eles sabiam que eram apaixonados um pelo outro, mas não
tomavam posicionamento diante disso. Entretanto, se cobravam certos
comportamentos. Se davam satisfações o tempo inteiro. Um telefonema que ela
recebia, uma conversa em uma rede social que ele se demorava, uma viagem que
ele precisava fazer e a saudade que ela sentia durante esse tempo. Eles não
tinham a relação, mas viviam-na. Com certeza apostavam que um dia a coragem
chegaria e eles poderiam ficar juntos.
Até que um dia houve um desentendimento entre os dois e
ambos, em um mesmo dia, na mesma festa, ficaram com outras pessoas. Acabou
tudo. Viveram essas relações e deixaram de viver a que já haviam começado. Para
eles, era o fracasso de uma relação que não aconteceu. Para os outros,
era o fim de um bonito relacionamento. Voltaram a se falar umas semanas depois,
juraram um ao outro que haviam se amado, mas não tiveram coragem de seguir. Ela
foi embora, ele voltou para o relacionamento anterior. Um dia, em uma festa,
ambos haviam bebido muito e ele procurou por ela no salão. Com os olhos, ele disse:
“jamais vou esquecer você”. Com os olhos, ela respondeu: “nem eu”.
Duas grandes paixões que marcaram sua vida e que ela nem teve
tempo de viver por inteiro. Aquela primeira teve oportunidade de ser resgatada
recentemente. Buscaram-se nas redes sociais e combinaram uma data para se
reencontrarem. Ele, um homem lindo, alto, olhos verdes e com a mesma
personalidade marcante. Ela uma mulher linda, olhos cor de mel e com a mesma
alegria contagiante.
Se viram e seus olhos brilharam. Tiveram um final de semana
de lua de mel, inesquecível. Passearam, conheceram lugares novos, viram o mar,
falaram do namoro que viveram, dos amores que conheceram, entregaram-se de
corpo e alma ao momento que viviam. Mas diziam um ao outro que aquilo ficaria
ali, pois moravam distante um do outro e relacionamento à distancia é mais
cobrança do que prazer. Ele foi embora, ela também. Antes disso houve um clima
de despedida com direito a lágrimas nos olhos. Iriam sentir falta um do outro,
mas cada um que cuidasse dessa parte sozinho.
Continuaram se falando, diziam sentir saudade, queriam
combinar a próxima vez que estariam juntos. Ela não sabia como era pra ele, mas
estava irremediavelmente apaixonada de novo, voltara a ser adolescente. Não sabia
como agir. Nunca havia sido boa com jogos, era sincera demais pra viver de
joguinhos e a última pessoa que ela havia visto jogar continuava a ser o mesmo
menino de sempre. Decidiu não jogar, não ficar atrás, não ficar esperando. Já
havia se machucado demais nessa vida para ainda estar convivendo com
indecisões. Ainda tinham muitos caminhos que ela precisaria percorrer e a gente
sabe que o tempo não é um bom amigo, ele não espera por ninguém. Tinha que
deixar a paixão durar seu tempo.
Há paixões que duram um dia, uma semana, um mês, um ano. Mas algumas
pesquisas científicas falam em até 48 meses de duração. Tudo depende dos
momentos em que estão juntos, do tempo que levam para um enxergar os defeitos
do outro e as dessemelhanças. Ou até que uma terceira pessoa apareça e uma nova
paixão aconteça.
Mas não adianta fugir. Se você quiser tentar
esquecer, procure não se lembrar da pessoa e das coisas que viveram juntos. Quer
uma dica? Experimente deixar as memórias guardadas em um cantinho da sua vida.
Viva outras histórias, novas situações. As memórias insistirão em sair do
cantinho onde você colocou-as, mas não ouse atende-las. No dia em que você já
estiver sentindo outra paixão, vá ao cantinho e procure a que guardara. Você
não vai encontrar, ela já terá passado.