quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Geração Descartável



Todos os dias, antes de começar a trabalhar, gosto de ler alguns sites. Leio as notícias principais e vou descendo o mouse. Hoje de manhã li uma frase de uma atriz que falava sobre maternidade e casamento: “essa geração é descartável”. Titubeei um pouco se clicava em cima da manchete, mas tive interesse de saber o porquê, embora, intimamente, soubesse do que ela iria falar.

Geração descartável. Eu sou essa “geração de hoje”, mas não sou descartável. Ou será que sou? Nunca havia prestado atenção nisso. Já até julguei outras pessoas de viverem descartando-se e descartando sentimentos, sensações, momentos. Será que eu também sou assim?

Recentemente passei por uma situação constrangedora. Foi mais para os outros do que para mim. Tive uma reconciliação de um relacionamento feita para “todo mundo” ver e testemunhar. Era amor demais propagado, jurado, incentivado. Uma cena que já havia visto dezenas de vezes. Recebi felicitações, flores, mensagens de boa sorte de “todo mundo”. E aí o que era de vidro se quebrou e houve uma infinidade de cenas nada humildes. “Todo mundo” que havia torcido antes e mandado infinitas mensagens, voltou a se manifestar no sentido contrário. As pessoas ficaram constrangidas, eu acabei ficando também. Mas a história foi descartada. Eita! Eu disse descartada?!

Não deu certo, a relação foi descartada. Simples. Pra quê ficar se preocupando com o outro, com o sentimento do outro, com as memórias daquela relação, com os anos que ela tinha? Descarta isso, joga no lixo, não tem mais serventia. Falando assim soa feio, né? É que usar alguma coisa e depois jogar fora porque ela não tem mais serventia é egoísmo puro, revela-nos uma pessoa ruim. Mas essa geração somos nós.

Eu que me via julgando, agora percebo que descartei. Joguei fora. Nada daquilo me interessa viver ou saber ou lembrar. Não me interessa mais. Mas não quero mais ser assim. Quero conquistar o que realmente me agrada. Não quero mais comprar uma bota só porque achei bonita na revista e descartar porque não ficou bacana em mim. Agora vou à loja, experimentarei a bota, pedirei a opinião das pessoas que se importam comigo e, só então, levarei para casa. Chega de bota descartada dentro do meu armário!

Alguma coisa está errada. Ou estamos descartando sem responsabilidade ou estamos tomando decisões precipitadas. Não precisa dizer que ama alguém, quando na verdade a gente ainda nem aprendeu a se amar; não precisa casar com alguém quando a gente ainda nem aprendeu a casar consigo; não precisa fazer juras ao outro, quando ainda mentimos para nós mesmos. Não devemos comprar uma calça rosa só porque a blogueira de sucesso disse que está na moda. Ou então, a gente compra a calça, veste uma vez, acha ridículo e descarta; Ou ainda usa a calça uma, duas, três vezes. Aí alguma amiga fala que a calça não está mais na moda e a gente descarta.

Precisamos aprender a ter responsabilidade sobre nossas escolhas. Querer alguma coisa ou alguém para depois descarta-la não nos está deixando gatinhos, mas revelando-nos uma geração mal vista. Um povo egoísta e egocêntrico. Gente que se basta, mas que na verdade nem se conhece.
Investir em terapia seria maravilhoso. Poderíamos reconhecer as nossas fraquezas e inclinações e daí saber porque descartamos. Porque cativamos e depois jogamos fora, porque conquistamos e depois descartamos. Cursos, projetos, lugares, sentimentos, pessoas, animais, objetos. Se nada disso nos interessa, nem nos questionamos o porquê, deixamos de lado. E reiniciamos outro ciclo de conquista-usa-joga fora. Geração mais careta essa nossa!


2 comentários:

  1. De fato Mai! Eu já havia percebido isso nessa nossa geração!

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  2. De fato Mai! Eu já havia percebido isso nessa nossa geração!

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