Cada indivíduo tem
o direito de ir e vir. Ir para um belo lugar, onde, da varanda da casa, seja
possível avistar o mar e os pássaros a sobrevoá-lo. Eles, os pássaros, também
receberam esse direito. Estão em toda parte, nada os prende. Assim é a vida,
assim foi estabelecido em algum momento.
Às vezes, surge a
vontade de modificar esse direito de ir e vir. Uma mãe que não deseja ver o fim
da vida prematura de seu filho, impede-o de ir à guerra, por exemplo. Um pai
também impede que seu filho viaje a terras distantes e estranhas, sendo esse ainda seu dependente. Entretanto, um
irmão mais velho dificilmente conseguirá impedir o mais jovem de fazer o mesmo.
Tirar o direito de ir e vir do indivíduo não é tarefa das mais fáceis.
Um homem
apaixonado pode até tentar impedir que sua amada se vá e deixe-o, mas ele não
conseguirá, pois ela possui o direito de ir onde quiser, de estar com quem quiser. E
possui ainda o direito de voltar para onde já esteve. Ninguém pode destituí-lo,
nem mesmo um coração apaixonado.
E pensando bem
direitinho, é bom que assim seja. Já pensou como seria ruim se aquele mesmo
homem prendesse a sua amada e a obrigasse permanecer ao seu lado, contra sua
vontade? Ele teria a amada, mas jamais o seu amor. Viveria com um espectro do
que fora a sua felicidade.
É também assim que
acontece com os pássaros que vivem presos em gaiolas. Alguns, que outrora
cantarolavam lindas melodias, vivem de um galho para o
outro, esquecem-se de voar. Presos na grade, passam a ver,
através delas, a liberdade que nasceram para ter.
Falar dos pássaros
fez lembrar o Beija-Flor. Muitas pessoas dão ao Beija-Flor o direito de ir e
vir. Colocam em suas janelas um objeto onde fica preso uma flor, ou algo
parecido, e o pássaro vai lá, dá uma bicada, faz aquele balançar de asas
maravilhosamente lindo, e se vai. A pessoa que criou aquele objeto merece um
prêmio. Dá ao pássaro o prazer de bicar o alimento e proporciona ao ser humano
o privilégio de assistir a um espetáculo da natureza.
As pessoas, os
pássaros, os animais não nasceram para serem presas. Quem os
criou deu-lhes o livre arbítrio e a liberdade. Tudo é permitido, mas nem tudo
convém. É preciso saber qual caminho é o melhor a seguir, qual caminho trará
mais benefícios, qual caminho levará à verdadeira felicidade.
Retira-se o
direito de ir e vir apenas àqueles que não têm responsabilidade com a vida do
outro, contraventores da lei. Apenas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário