terça-feira, 11 de agosto de 2015

Uma Velha Conhecida


Ela aparece sem ser convidada. E vai ficando. De forma avassaladora, toma conta dos pensamentos, das ideias, das vontades e,  daqui a pouco,  já nos domina por inteiro. Estou falando da paixão. A paixão nos enche de graça, anima nossa alma, traz cores vivas às nossas vidas. A gente tem vontade de viver aquilo pra sempre. Não conseguimos tirar nossos olhos dos olhos do outro. A gente vive para morrer nos braços do outro. Fica ansioso com a chegada e chora com a partida. Sente um vazio quando não está perto, sente-se aliviado quando recebe uma ligação (ou mensagem de whatsapp).

Certa vez conheci um casal de adolescentes completamente apaixonados. Era o ano de 1997 e eles formavam o casal mais lindo da escola. A beleza estava neles, mas ainda mais na troca de olhares, no tocar das mãos, no choque que sentiam quando seus lábios se tocavam. Viveram o namorico por seis meses, até o dia em que uma intriga os separou. Um amigo dele contou a ela que fora traída na festinha de conclusão de ano da turma da escola. Ele bem que tentou persuadi-la do término, mas ela, orgulhosa demais, não conseguia esquecer o fato e preferiu seguir sem ele e com o coração cheio de paixão.

Em outro momento,  conheci uma mulher que já havia se machucado demais com um determinado amor de sua vida. Procurando ficar longe de tudo que remetesse àquele amor, aceitou emprego em outra cidade. No primeiro dia de trabalho, em uma reunião, conheceu um rapaz. Eles se olharam e passaram uns cinco segundos com o olhar em cima do outro. Não, não era já a paixão, mas uma atração inconfundível.

Começaram a trabalhar juntos e tiveram a oportunidade de se conhecerem melhor. Era só isso que a paixão estava esperando para se tornar dona da situação. O rapaz não era o homem mais lindo do mundo, na verdade ele nem era tão bonito assim. Mas adivinhava os pensamentos dela e fazia de tudo para vê-la feliz. Acordava e lhe mandava mensagens: “Bom dia! Vamos tomar café juntos?! Te pego em 20 minutos”. Ela nem hesitava. Já dormia esperando por isso.

A cidade era pequena e as pessoas começavam a notar a amizade crescendo e tomando outras proporções. Eles dois também perceberam que já não era mais só amizade, estavam apaixonados. Um dia começaram a conversar sobre isso. Mas ele tinha uma história mal resolvida, um relacionamento anterior terminado de uma forma que ela não entendia e com um filhinho lindo e carinhoso no meio. Ela teve medo e não quis dar passos mais longos. Nem beijo eles trocaram, embora não conseguissem apartar as vidas um do outro.

Não se relacionavam intimamente, mas todo mundo apostava que sim, às vezes até eles. Eles sabiam que eram apaixonados um pelo outro, mas não tomavam posicionamento diante disso. Entretanto, se cobravam certos comportamentos. Se davam satisfações o tempo inteiro. Um telefonema que ela recebia, uma conversa em uma rede social que ele se demorava, uma viagem que ele precisava fazer e a saudade que ela sentia durante esse tempo. Eles não tinham a relação, mas viviam-na. Com certeza apostavam que um dia a coragem chegaria e eles poderiam ficar juntos.

Até que um dia houve um desentendimento entre os dois e ambos, em um mesmo dia, na mesma festa, ficaram com outras pessoas. Acabou tudo. Viveram essas relações e deixaram de viver a que já haviam começado. Para eles, era o fracasso de uma relação que não aconteceu. Para os outros,  era o fim de um bonito relacionamento. Voltaram a se falar umas semanas depois, juraram um ao outro que haviam se amado, mas não tiveram coragem de seguir. Ela foi embora, ele voltou para o relacionamento anterior. Um dia, em uma festa, ambos haviam bebido muito e ele procurou por ela no salão. Com os olhos, ele disse: “jamais vou esquecer você”. Com os olhos, ela respondeu: “nem eu”.

Duas grandes paixões que marcaram sua vida e que ela nem teve tempo de viver por inteiro. Aquela primeira teve oportunidade de ser resgatada recentemente. Buscaram-se nas redes sociais e combinaram uma data para se reencontrarem. Ele,  um homem lindo, alto, olhos verdes e com a mesma personalidade marcante. Ela uma mulher linda, olhos cor de mel e com a mesma alegria contagiante.

Se viram e seus olhos brilharam. Tiveram um final de semana de lua de mel, inesquecível. Passearam, conheceram lugares novos, viram o mar, falaram do namoro que viveram, dos amores que conheceram, entregaram-se de corpo e alma ao momento que viviam. Mas diziam um ao outro que aquilo ficaria ali, pois moravam distante um do outro e relacionamento à distancia é mais cobrança do que prazer. Ele foi embora, ela também. Antes disso houve um clima de despedida com direito a lágrimas nos olhos. Iriam sentir falta um do outro, mas cada um que cuidasse dessa parte sozinho.

Continuaram se falando, diziam sentir saudade, queriam combinar a próxima vez que estariam juntos. Ela não sabia como era pra ele, mas estava irremediavelmente apaixonada de novo, voltara a ser adolescente. Não sabia como agir. Nunca havia sido boa com jogos, era sincera demais pra viver de joguinhos e a última pessoa que ela havia visto jogar continuava a ser o mesmo menino de sempre. Decidiu não jogar, não ficar atrás, não ficar esperando. Já havia se machucado demais nessa vida para ainda estar convivendo com indecisões. Ainda tinham muitos caminhos que ela precisaria percorrer e a gente sabe que o tempo não é um bom amigo, ele não espera por ninguém. Tinha que deixar a paixão durar seu tempo.

Há paixões que duram um dia, uma semana, um mês, um ano. Mas algumas pesquisas científicas falam em até 48 meses de duração. Tudo depende dos momentos em que estão juntos, do tempo que levam para um enxergar os defeitos do outro e as dessemelhanças. Ou até que uma terceira pessoa apareça e uma nova paixão aconteça.

Mas não adianta fugir. Se você quiser tentar esquecer, procure não se lembrar da pessoa e das coisas que viveram juntos. Quer uma dica? Experimente deixar as memórias guardadas em um cantinho da sua vida. Viva outras histórias, novas situações. As memórias insistirão em sair do cantinho onde você colocou-as, mas não ouse atende-las. No dia em que você já estiver sentindo outra paixão, vá ao cantinho e procure a que guardara. Você não vai encontrar, ela já terá passado.

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Geração Descartável



Todos os dias, antes de começar a trabalhar, gosto de ler alguns sites. Leio as notícias principais e vou descendo o mouse. Hoje de manhã li uma frase de uma atriz que falava sobre maternidade e casamento: “essa geração é descartável”. Titubeei um pouco se clicava em cima da manchete, mas tive interesse de saber o porquê, embora, intimamente, soubesse do que ela iria falar.

Geração descartável. Eu sou essa “geração de hoje”, mas não sou descartável. Ou será que sou? Nunca havia prestado atenção nisso. Já até julguei outras pessoas de viverem descartando-se e descartando sentimentos, sensações, momentos. Será que eu também sou assim?

Recentemente passei por uma situação constrangedora. Foi mais para os outros do que para mim. Tive uma reconciliação de um relacionamento feita para “todo mundo” ver e testemunhar. Era amor demais propagado, jurado, incentivado. Uma cena que já havia visto dezenas de vezes. Recebi felicitações, flores, mensagens de boa sorte de “todo mundo”. E aí o que era de vidro se quebrou e houve uma infinidade de cenas nada humildes. “Todo mundo” que havia torcido antes e mandado infinitas mensagens, voltou a se manifestar no sentido contrário. As pessoas ficaram constrangidas, eu acabei ficando também. Mas a história foi descartada. Eita! Eu disse descartada?!

Não deu certo, a relação foi descartada. Simples. Pra quê ficar se preocupando com o outro, com o sentimento do outro, com as memórias daquela relação, com os anos que ela tinha? Descarta isso, joga no lixo, não tem mais serventia. Falando assim soa feio, né? É que usar alguma coisa e depois jogar fora porque ela não tem mais serventia é egoísmo puro, revela-nos uma pessoa ruim. Mas essa geração somos nós.

Eu que me via julgando, agora percebo que descartei. Joguei fora. Nada daquilo me interessa viver ou saber ou lembrar. Não me interessa mais. Mas não quero mais ser assim. Quero conquistar o que realmente me agrada. Não quero mais comprar uma bota só porque achei bonita na revista e descartar porque não ficou bacana em mim. Agora vou à loja, experimentarei a bota, pedirei a opinião das pessoas que se importam comigo e, só então, levarei para casa. Chega de bota descartada dentro do meu armário!

Alguma coisa está errada. Ou estamos descartando sem responsabilidade ou estamos tomando decisões precipitadas. Não precisa dizer que ama alguém, quando na verdade a gente ainda nem aprendeu a se amar; não precisa casar com alguém quando a gente ainda nem aprendeu a casar consigo; não precisa fazer juras ao outro, quando ainda mentimos para nós mesmos. Não devemos comprar uma calça rosa só porque a blogueira de sucesso disse que está na moda. Ou então, a gente compra a calça, veste uma vez, acha ridículo e descarta; Ou ainda usa a calça uma, duas, três vezes. Aí alguma amiga fala que a calça não está mais na moda e a gente descarta.

Precisamos aprender a ter responsabilidade sobre nossas escolhas. Querer alguma coisa ou alguém para depois descarta-la não nos está deixando gatinhos, mas revelando-nos uma geração mal vista. Um povo egoísta e egocêntrico. Gente que se basta, mas que na verdade nem se conhece.
Investir em terapia seria maravilhoso. Poderíamos reconhecer as nossas fraquezas e inclinações e daí saber porque descartamos. Porque cativamos e depois jogamos fora, porque conquistamos e depois descartamos. Cursos, projetos, lugares, sentimentos, pessoas, animais, objetos. Se nada disso nos interessa, nem nos questionamos o porquê, deixamos de lado. E reiniciamos outro ciclo de conquista-usa-joga fora. Geração mais careta essa nossa!